Cessa de correr (ou de circular simplesmente)
e de marulhar em areias movediças
que nada mais farão do que levar-te a natatórios ininterruptos
se continuas a olhar a carruagem
e a deixas sempre seguir
sem nela entrar (mesmo que num dos seus mais minúsculos compartimentos)
e permaneces sempre imutavelmente cinza
jamais emergirás no mundo
mesmo que no seu estado mais caótico, desregrado
se mergulhas no obscuro de tudo e de coisa nenhuma
o teu olhar jamais captará os violinos que te sorriem
as rosas que te perfumam
a praia que te aguarda estendida, oferecida
Jamais voltarás a Ti.
sexta-feira, 11 de junho de 2010
terça-feira, 25 de maio de 2010
«...com palavras não se faz o desespero mas a Poesia.»
Morreu um Poeta! Foi hoje a sepultar...
Deixo-vos (talvez o último) Improviso que escreveu quatro dias antes da sua partida:
«Improviso (mais um) para pedra tumular...
Se renascesse
repetiria tudo outra vez
e acompanhar-me-ia ao piano
sem partitura
que já me saberia de ouvido
ou de cor
voltaria por exemplo a escrever sonetos
quase perfeitos
para a Deolinda
que virginava entre as capelas da Sé
e para a Sameiro
de quem guardo ainda uma fotografia
naturalista
a preto e branco
e para a Conceição
que me acompanhava sempre em silêncio
ou em latim
se calhar já morreram
ou continuam ainda a ler-me em segredo
já sexuagenárias
se renascesse
repetiria tudo outra vez
e acompanhar-me-ia ao piano
sem partitura
que já me saberia de ouvido
ou de cor
e regressaria sempre
à lenta memória das teclas
e dos dedos
que tocaram todas as palavras.»
19.05.2010
Ademar Ferreira dos Santos
Um dia... reencontrar-nos-emos... e voltaremos a partilhar POESIA!
Até já...
Deixo-vos (talvez o último) Improviso que escreveu quatro dias antes da sua partida:
«Improviso (mais um) para pedra tumular...
Se renascesse
repetiria tudo outra vez
e acompanhar-me-ia ao piano
sem partitura
que já me saberia de ouvido
ou de cor
voltaria por exemplo a escrever sonetos
quase perfeitos
para a Deolinda
que virginava entre as capelas da Sé
e para a Sameiro
de quem guardo ainda uma fotografia
naturalista
a preto e branco
e para a Conceição
que me acompanhava sempre em silêncio
ou em latim
se calhar já morreram
ou continuam ainda a ler-me em segredo
já sexuagenárias
se renascesse
repetiria tudo outra vez
e acompanhar-me-ia ao piano
sem partitura
que já me saberia de ouvido
ou de cor
e regressaria sempre
à lenta memória das teclas
e dos dedos
que tocaram todas as palavras.»
19.05.2010
Ademar Ferreira dos Santos
Um dia... reencontrar-nos-emos... e voltaremos a partilhar POESIA!
Até já...
segunda-feira, 24 de maio de 2010
(no rescaldo de uma leitura atenta)
Feiticeiro da palavra
disseram um dia
Não! As tuas palavras não nos enfeitiçam.
São mais possantes, armipotentes.
Absorvem-nos.
Alimentam-nos.
disseram um dia
Não! As tuas palavras não nos enfeitiçam.
São mais possantes, armipotentes.
Absorvem-nos.
Alimentam-nos.
segunda-feira, 29 de março de 2010
Este local fora, outrora, frequentado diariamente por dezenas de pessoas.
Aqui havia água sulfúrea sódica e tratavam-se doenças de pele e reumatismo.
Na altura, havia um balneário, agora desactivado.
As termas foram, entretanto, adquiridas pela Junta de Freguesia. Espero que algo agradável se faça desta aquisição.
Aqui havia água sulfúrea sódica e tratavam-se doenças de pele e reumatismo.
Na altura, havia um balneário, agora desactivado.
As termas foram, entretanto, adquiridas pela Junta de Freguesia. Espero que algo agradável se faça desta aquisição.
Termas do Amieiro Galego em Vila das Aves
Pode parecer estranho (aliás, estranheza foi a sensação que tive quando revisitei há dias este local), mas foi este um dos locais onde passei parte da minha infância.
Onde tomei banho, onde andei de barco, onde brinquei, onde fiz termas, onde fiz dezenas de piqueniques...
Belos tempos aqueles...
Onde tomei banho, onde andei de barco, onde brinquei, onde fiz termas, onde fiz dezenas de piqueniques...
Belos tempos aqueles...
domingo, 28 de março de 2010
Ausência
Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
ou numa terra nua
Por maior que seja o desepero
nenhuma ausência é mais funda do que a tua.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Numa noite sem lua
Num país sem nome
ou numa terra nua
Por maior que seja o desepero
nenhuma ausência é mais funda do que a tua.
Sophia de Mello Breyner Andresen
terça-feira, 23 de março de 2010
O Decreto da Palavra
A palavra que se pede
A palavra inquieta, atrevida
A palavra escandalosa, que ri com ironia
A palavra que incomoda
A palavra final, que decreta
A palavra invejosa, que conspira
A palavra incerta, que vagueia nos nossos pensamentos
A palavra que paira no ar, sem rumo
A palavra proibida, encarcerada nos muros de uma ditadura escabrosa
A palavra que aponta, que recrimina, que incomoda e que fere
A palavra vaidosa que se pavoneia
A palavra revoltada, abrupta e inconsequente
A palavra apática, monótona
A palavra que ferve, que marina em poções de sarcasmos e despudor
A palavra velha, demodée, repetida, que satura
A palavra embaixadora da verdade
A palavra que nunca o foi
A palavra que eu sinto, que eu vejo, que eu quero, mas que guardo
Fevereiro de 2006
Hoje, por falar em "palavra", lembrei-me deste meu poema... Terá sido o primeiro que escrevi... efectivamente...
Foi escrito numa altura em que as palavras me incomodavam... às vezes...
Hoje, talvez ainda faça sentido... Corrijo, fará sentido sempre.
A palavra inquieta, atrevida
A palavra escandalosa, que ri com ironia
A palavra que incomoda
A palavra final, que decreta
A palavra invejosa, que conspira
A palavra incerta, que vagueia nos nossos pensamentos
A palavra que paira no ar, sem rumo
A palavra proibida, encarcerada nos muros de uma ditadura escabrosa
A palavra que aponta, que recrimina, que incomoda e que fere
A palavra vaidosa que se pavoneia
A palavra revoltada, abrupta e inconsequente
A palavra apática, monótona
A palavra que ferve, que marina em poções de sarcasmos e despudor
A palavra velha, demodée, repetida, que satura
A palavra embaixadora da verdade
A palavra que nunca o foi
A palavra que eu sinto, que eu vejo, que eu quero, mas que guardo
Fevereiro de 2006
Hoje, por falar em "palavra", lembrei-me deste meu poema... Terá sido o primeiro que escrevi... efectivamente...
Foi escrito numa altura em que as palavras me incomodavam... às vezes...
Hoje, talvez ainda faça sentido... Corrijo, fará sentido sempre.
AS PALAVRAS
São como cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
Eugénio de Andrade falou, como poucos, sobre a palavra...
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
Eugénio de Andrade
Eugénio de Andrade falou, como poucos, sobre a palavra...
É urgente o amor
Para variar um bocadinho... e tendo em conta que na Comunidade de Leitores falámos sobre Eugénio...
É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
Eugénio de Andrade
É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
Eugénio de Andrade
Balança
No prato da balança um verso basta
para pesar no outro a minha vida.
E eu que sou balança... eu que me balanço... eu que balanço... eu que me equilibro!
para pesar no outro a minha vida.
Eugénio de Andrade
E eu que sou balança... eu que me balanço... eu que balanço... eu que me equilibro!
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